A Náusea, de Jean-Paul Sartre

Há quem diga que o existencialismo seja inútil. Bem, talvez o seja, mas eu encontrei sua relevância ao desfrutar de um ótimo final de semana na companhia d'A Náusea - e, nessa altura, tenho a certeza da ambiguidade desta afirmação: refiro-me ao livro de Sartre e à Náusea.

Esclarecerei os fatos.

O existencialismo é uma corrente filosófica bastante controversa, encabeçada por Kierkegaard e sustentada por Sartre e "esposa" - deste último - Simone de Beauvoir, que teve seu início no século XX. Ele busca ponderar a respeito dos próprios limites da realidade, desde a escala micro até a macro - tendo a influência exercida e recebida desde o indivíduo até o mundo por completo, respectivamente.

É tida por irrelevante e alvejada com diversas críticas quando se busca sua necessidade. Questionamentos como "Por que estou aqui? ", "Qual o sentido da vida? " e "O que é a vida? ", há muito se tornaram arcaicos por grande parte das instituições filosóficas. Isto se deve ao fato de que as ciências se expandiram e individualizaram-se, estabelecendo, cada qual, seu próprio fundamentalismo para estas inquietações. Assim, seja a religião, seja a ciência, no século XXI, têm-se bases para novos pensamentos, que já são tão-somente dogmatismos, desprovidas de dignidade para uma eventual reformulação de seus cernes.

Não obstante, o existencialismo é rebelde em sua essência. Ele desconstrói as verdades mais irrefutáveis e dá sua atenção a linhas de pensamentos deveras mais tênues, simples e vagas. Sartre, na obra em questão, dá o nome ao sentimento de inquietação do ser humano que matuta sobre a vida e tem, portanto, as famígeras crises existenciais, de A Náusea - um termo bastante apropriado, a meu ver, visto que normalmente, ao refletir sobre sua função no mundo ou sua insignificância perante a vastidão do espaço não é um estado de espírito agradável.

No livro, o leitor acompanha uma minúscula parcela de vida do personagem Antoine Roquentin, - voraz leitor - que se vê vítima d'A Náusea quando se segrega em Bouville para escrever um livro a respeito do marquês de Rollebon. Ao decorrer da leitura, o protagonista se submete a uma nuvem de dúvidas, que provoca sua sensibilidade, dando-lhe a impressão exagerada da engenhosidade inexplicável do mundo. "As gramas são tão verdes, e o vento tão frio, como tudo é tão real! Como é possível? " É a categoria de embate psicológico que desafia Roquentin.

Em suma: A Náusea, obra-prima de Jean-Paul Sartre é encantadora e, em simultâneo, desesperadora. Ela engaja o leitor a uma ânsia quase incessante que só finda quando este vira sua última página, ou não. É agora que se terá a oportunidade para escolher: fecharei este livro ou o manterei aberto em minha mente?

Nossa existência é tão grandiosa que deveria, ao menos, ser duvidada diariamente. Caso contrário, podemos acabar sendo vítimas da estagnação ou do ceticismo exótico que assolou Descartes em seus últimos anos de vida.


Jean-Paul Charles Aymard Sartre (Paris, 21 de junho de 1905 - Paris, 15 de abril de 1980) foi um filósofo, escritor e crítico francês.

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