Apresentação
O Primeiro Livro é Para Sempre
A vida é a arte do encontro - Vinicius de Moraes
Escrever um livro, plantar uma árvore, gerar um filho, essa é, dizem, a linhagem básica e crucial de um ser humano na face da terra. Gerei uma árvore, plantei um livro, escrevi um filho. Árvore da vida? A maior alegria de um poeta versado em anos, na tábua de esmeraldas da terra, é conhecer um poeta novinho em folha. Um bendito dia um ídolo nativo de sua terra presta atenção em você, com o coração doce te adota, e você, assim, literalmente sobe nos ombros desse gigante para poder enxergar mais longe, pois referenciais de percursos e estadias são faróis circunstanciais para artistas, aprendizes dessa arte como libertação, do ser em suas questões primordiais. Isso aconteceu comigo, nas aprendizagens das redondezas, pertinências e lonjuras. Assim, quando você conhece alguém jovem, ou, mais, muito jovem ainda, muito precoce até, fazendo arte, fica pensando: então, meu Deus, nem tudo está perdido. Quem já passou por isso sabe. Érico Veríssimo dizia que fazer arte era acender fósforos... E fósforos... Quando a gente vai ficando velho, fica se perguntando, sacando, pensando, querendo saber quem, em família, no clã ou no meio; quem vai continuar você, acendendo esses benditos fósforos.
Lembro-me, a título de gracejos e ilustração editorial, quando, numa madrugada estava com meu mestre e ídolo-mor Jorge Chuéri, pelas ruas de cacau quebrado de Itararé, terra-mãe, lua alta, céu risonho, e um jovem desceu pela rua irradiando um futebol imaginário em alto e bom tom, misturando craques de épocas diversas, mas tão poético aquilo, que o meu referencial e gigante artista premiado Jorge Chuéri brincou comentando com sua portentosa filosofia boêmia: - Estou ficando velho, e Deus está renovando o estoque de loucos...
Demos risadas, no contexto notívago daquilo tudo. Por isso, procuramos sempre alguém que, quando depositarmos as nossas armas de lutas de percursos e trilhas, de sonhos e utopias, quando deixarmos de existir, alguém também meio "maluco beleza" (que não tenha aquela velha opinião formada sobre tudo) e que possa levar adiante em nosso lugar e por nós, a arte como bandeira de luta, a arte como libertação, pois o amor tem uma irmã: a esperança. E sendo a esperança a inteligência da vida, a arte vaza a sensibilidade de meus ancestrais, de minha alma perguntadora e, certamente, quando pinta um jovem poeta na área, ficamos contentes e temos a consciência de que, de uma forma ou de outra, acima e sobre todas as coisas, pelo menos não lutamos em vão, que esse jovem de dons e talentos escolhidos por Deus continuará a nossa seara de perguntamentos, de tentar compreender a alma humana, mais do que a própria alma humana compreende a si mesma, já que somos, afinal, um ser humano, uma alma humana, tentando compreender outro humano em nós.
Pois a história que me une à Lucas de Lazari Dranski tem essa mistura salutar de uma amiga professora de clã que admiro e respeito, com amor e carinho. Lucas foi, por assim dizer, descoberto e incentivado pela professora Rachel Santos, como eu fui descoberto e incentivado pelo Jorge Chuéri, o maior artista de nossa centenária e bela Itararé que amamos tanto, e descoberto pela professora do primário, Jocelina Stachoviach de Oliveira, no saudoso G.E.T.T. Grupo Escolar Tomé Teixeira de Itararé. Nossa sagrada estância boêmia de letras e artes. Depois, trocando figurinhas com o Lucas, verifiquei que ele era amigo de amigos, de parentes queridos, e que estava tendo, portanto, a minha formação-base pela qual me norteei e na qual me assentei para ser um vencedor e seguir as difíceis estradas da vida, tentando vencer, lançar meus trabalhos, ser reconhecido em minha terra e mesmo como um pobre poeta, eterno aprendiz de viver e sobreviver num mundo de tantas riquezas injustas; como falou São Lucas: "De tantas lágrimas, o que fazem do poeta um recolhedor dessas lágrimas é o que transforma em estrelas, em poesia - quando o amor se transforma em poesia - em registros letrais, palavras garbosas, em versos magnos.", pois, como muito bem dizia o poeta francês Rimbaud: "Todo artista é antena de sua época, escreve para dar testemunho de seu tempo, das alegranças, amarguras e incompletudes de seu tempo, espaço e lugar.". Um outro poeta dizia, sobre o fazer poético em tempos tenebrosos: "Faz escuro mais eu canto. ", enquanto um outro filosoficamente até dizia: "O importante é que a emoção sobreviva. ", ou que a vida é a arte do encontro...
Pois, via internet fui falando com o Lucas, pelas redes sociais, depois o conheci em minha casa - em minha histórica Estância Boêmia de Santa Itararé das Artes - Cidade Poema, depois pudemos papear com meus e seus familiares em casa de parentes em Itararé, tive a oportunidade de ceder alguns livros meus para ele, fomos nos conhecendo e nos reconhecendo, e acabamos além de amigos virtuais, amigos presenciais, amigos do coração. E ele com o com o jeito dele de avaliar, de pensar e sentir, de resenhar, com perspectivas novas, com visão pura e jovial, de um jovem perguntador, inovador, criativo, precocemente sensível. E assim a poesia nos fez amigos, nos uniu, e agora, honrado em poder acompanhar a feitura de seu primeiro trabalho em livro, tento aqui dizer algumas palavras, já que o primeiro livro, como a primeira professora, como o primeiro amor, como o primeiro beijo, o primeiro gol, é para sempre.
Fica aqui essa modesta apresentação a guisa de prefácio, para um poeta que de origem digna tece o cordão de palavras de seus primeiros recolhes íntimos, diversos, mas não tão necessariamente dispersos, diversos, mas de versos.
Assim como continua a arte a fazer seus escolhidos, como um ser sensível pela própria natureza, com versos e prosas, mente brilhante e sensível, dando-me assim e também, por isso mesmo, orgulho de ser amigo do escritor Lucas, como um sobrinho-filho, como um querido sobrinho-poeta que o coração escolheu, não apenas, para brincar de olhar e colher estrelas, mas para trocar versos, saber a versão nova desse mundo que precisa de corações e mentes preciosas para dar novas iluminuras a ele, à esperança, ao amor, à sensibilidade como forma de provar que o Criador nos fez para conhecermos as alegranças e lágrimas da vida, mas o poeta, marcado para esse fito, tem sim, de ser como a cana-de-açúcar: mesmo pisada, marcada, ralada, moída, posta nos engenhos da vida, ainda assim e por isso mesmo, tem que dar açúcar-poesia, pois, afinal, como diria a também jovem poeta Luana Dias: "Há uma luz além da luz/Uma luz que troca de cor/A cada palpitar do corpo/A cada preencher de um oco/Que o mundo não completa" (In, Metamorvida, 2015, Editora Chiado, Portugal).
Dispersos diversos é isso, e vice-versa, e ver-se versos. A poética de Lucas canta sua alma-luz, sua alma nau, fala por ele, olhares novos sobre horizontes e mesmo sobre buscas, reflexões e cantarias muito além das estradas de tijolos amarelos.
Longa vida ao Poeta Lucas! Que Deus o abençoe ricamente; que esse poetinha de Itararé já tem o afeto e reconhecimento de carinho, respeito, e admiração.
À benção, Lucas! Longa vida! Boas artes!
Viva a poesia que nos salva de nós!
Silas Corrêa Leite, poetinha de Itararé
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