Assassinatos na Academia Brasileira de Letras, de Jô Soares

Jô sempre é polêmico, seja sendo muito amável para uns como repreensível para outros. Sua carreira icônica como apresentador de TV tornou-se, ao longo dos anos, sua própria identidade. A verdade é que, como leitor de seus livros, sinto como se o José Eugênio buscasse um escape; não por desgostar de seu emprego, - afinal há provas vitalícias de seu amor pela arte de entrevistar - mas por simplesmente respirar um ar diferente do habitual. A quebra da rotina é necessária, às vezes, para a preservação da rotina.

Assim, independentemente de sua visão política em relação a José, ouso-lhe convidar a construir uma nova imagem a seu respeito, contudo, desta vez, como escritor. Ok! Seus livros não são obras-primas! Mas quem sou eu para dizer? No mundo da literatura, é apreciável, dentre leituras mais complexas ou que demandam mais atenção, nos intervalos, obras confortáveis, de fontes gigantes, naqueles temas clichês que evitamos tanto ao ponto de perderem esta qualidade.

Há alguns anos li O Xangô de Baker Street, - um ótimo livro, digno de uma resenha crítica futura - logo, não conheci um escritor em Assassinatos na Academia Brasileira de Letras. Destarte, poupei-me da novidade, pois o suspense embutido nesta última obra é incrivelmente semelhante ao que citei anteriormente.

Assistir um filme com a companhia desejada: esta é a sensação de ler Jô Soares. As fontes enormes e a voracidade que é induzida ao leitor aderir contribuem para este fato, fazendo com que este último finalize suas obras em algumas horas. Temas bastante explorados pela mídia nas décadas passadas como investigações policiais de um serial killer extremamente criterioso não deixam de ser um fator que contribui neste sentido.

Em Assassinatos na Academia Brasileira de Letras, o comissário Machado Machado investiga o início de uma série de assassinatos, - que se passa no Rio de Janeiro de 1924 - obviamente, nos quais as vítimas são os ilustres Imortais, membros da Academia Brasileira de Letras. Contando com diversas personalidades controversas e duvidosas, com o transcorrer das páginas, a dúvida corrói o leitor ao acompanhar a investigação na mesma medida em que novos crimes são cometidos e algumas cenas sem revelar a identidade do assassino nos são reveladas.

Como eu disse antes, as obras de Jô - e digo na propriedade de ser leitor de dois de seus livros, apesar de As Esganadas estar na mira - são, com todo respeito ao autor, um passatempo. Romances que de nada exigem do leitor e, em contraponto, têm boas horas de leitura a oferecer.

Gostaria de pontuar ainda, num breve elogio, a fidelidade às datas e demais informações históricas que, a meu ver - de modo algum um especialista - se mostraram bastante fidedignas ao cenário, demonstrando uma grande pesquisa sobre a época mascarada nas entrelinhas de Assassinatos na Academia Brasileira de Letras, e não suficiente, um importante elemento imersivo do Rio de Janeiro com seu Cristo Redentor em construção e cujas ruas abrigavam muito mais pessoas do que veículos.

Recomendo o livro e ainda mais, recomendo o hábito da leitura.


José Eugênio Soares, mais conhecido como Jô Soares ou simplesmente Jô (Rio de Janeiro, 16 de janeiro de 1938), é um humorista, apresentador de televisão, escritor, dramaturgo, diretor teatral, ator, músico e pintor brasileiro.

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