Feira de versos: poesia de cordel, de Patativa do Assaré, João Melquíades Ferreira da Silva e Leandro Gomes de Barros

Ontem (27), tirei a vida de minha vontade que há tempos desejava conhecer poesia de cordel; mormente o consagrado Patativa do Assaré. Então, decidi ler um livreto organizado por Cláudio Henrique Salles Andrade e Nilson Joaquim da Silva que dispunha em meu acervo, que, por sua vez, reunia alguns textos de três gigantes cordelistas: Patativa, Melquíades e Leandro G. de Barros.

Aos menos inteirados, como eu até então, poesia de cordel, - também conhecida singelamente como folheto - é um gênero literário que por incrível que pareça, surgiu na Europa (reitero isto, pois sempre imaginei que o mérito de sua invenção era brasileiro), durante o Renascimento. Daí, difundiu-se rapidamente por sua intensa natureza popularesca, quase sempre escrita em linguagem coloquial e exposta em locais públicos para fácil exposição, atingindo, progressivamente todos os países europeus e depois o Ocidente, por completo.

No Oriente, ela se tornou menos acessível devido aos medajs, poetas cantores seguidores do Islã que influenciaram a literatura de cordel e consequentemente, já dispunham de uma forma de poesia semelhante. Já no Brasil, houve uma importante adaptação. Apesar do cordel impregnar-se na cultura nordestina, seu costume de ser pendurado em barbantes e exposto ao público transmutou-se na fala cantada, uma forma de declamação harmônica e musicalizada. Esta característica muito se deve à natureza paupérrima do Nordeste brasileiro, como se nota na biografia de Patativa do Assaré, que decorava todos os seus poemas por não ter dinheiro suficiente para comprar papel e tinta.

A principal característica da poesia de cordel é a que eu já esperava, contudo, a magia de ler aos quatro ventos as estrofes honestas e folclóricas dos cordelistas é, sem dúvidas, um motivo gratificante e irrefutável no que cabem suas leituras. Seus versos são repletos de superstições, causos religiosos, situações que remetem ao trabalho no campo e à simplicidade, sendo assim, a poesia o reflexo da sociedade que a construiu. Até mesmo sua métrica é repleta de regionalismos que de forma alguma devem ser repudiados pelos fiéis à Linguística.

Histórias quiméricas como a de um enorme pavão metálico construído por um engenheiro para que seu cliente pudesse resgatar sua amada de uma torre na Grécia ou do boi Zebu que foi atacado por formigas reafirma este argumento.

Como um jovem poeta e profundo admirador daqueles que fazem poesia, sou suspeito para elogiar. Mas tenho convicção ao afirmar que a ingenuidade e simplicidade presentes na literatura de cordel são fatores bastante convidativos. Sua poesia é uma ótima recomendação para deleitar uma sesta de fim de tarde, ou até mesmo alguma hora calom da madrugada, relevando sempre a importância de se apreciar a arte.

Antônio Gonçalves da Silva, mais conhecido como Patativa do Assaré (Assaré, 5 de março de 1909 - Assaré, 8 de julho de 2002), foi um poeta popular, compositor, cantor e improvisador brasileiro. 

Leandro Gomes de Barros (Pombal, 19 de novembro de 1865 - Recife, 4 de março de 1918) foi um poeta de literatura de cordel brasileiro.

João Melchíades Ferreira da Silva (Bananeiras, 7 de setembro de 1869 - João Pessoa, 10 de dezembro de 1933), também conhecido como "O Cantor da Borborema", foi um cantador e poeta paraibano de literatura de cordel, considerado um dos grandes nomes da primeira geração de cordelistas nordestinos.

© 2016-2023 Lucas de Lazari Dranski. Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Webnode Cookies
Crie seu site grátis! Este site foi criado com Webnode. Crie um grátis para você também! Comece agora